Como é o nosso dia a dia?

Como era antes da pandemia

Todos os dias, um dos obreiros chega mais cedo para preparar o café da manhã. Os outros chegam às 7h30. Neste horário, o portão da Casa é aberto e os homens podem entrar. Das 7h30 até às 8h, a equipe faz seu devocional e se prepara para o dia de trabalho. Às 8h, o portão é fechado e ninguém entra depois desse horário.

Começa, então, o atendimento. O primeiro passo é reunir todos os homens que desejam passar o dia na Casa. Eles são reunidos no pátio da frente, onde são passadas todas as regras da Casa. Todos aqueles que estiverem em condições de passar o dia conosco, são direcionados para a lateral da casa, onde são revistados. A revista acontece para que ninguém entre com nenhum tipo de álcool e droga, nem com nenhum material que possa representar perigo para os homens que estiverem aqui. 

Uma das nossas falas, sempre, é que queremos passar um dia diferente, longe de drogas, conversas que não são saudáveis, e que possamos dar um refrigério para o corpo e para a alma. Isso requer o respeito de todos e a compreensão. E, também, que o banho é obrigatório. 

Processo de seleção

Como a Casa não comporta muita gente, nosso limite de atendimento diário era de 20 pessoas. Tivemos, não poucas vezes, mais de 20 pessoas desejando passar o dia na Casa. Então, criamos alguns critérios de seleção. São eles: têm prioridade aqueles que estão na Casa pela primeira vez e aqueles que têm compromisso com a Casa, que é o desejo de ir para uma Comunidade Terapêutica. O segundo passo no critério de seleção é oferecer a possibilidade de alguém doar a vez. Caso alguém doe em um dia, no dia seguinte aquela pessoa tem entrada garantida na Casa. Se, ainda assim, após as doações, ainda estivermos com mais de 20 homens, o último critério é aqueles que estiveram na Casa no dia anterior. Todos estes vão para o ‘sorteio da pedra menor’, que são pedras de bingo. Exemplo: estamos em 24 pessoas. Quatro precisarão doar a vez. Dois doaram e garantiram a entrada no dia seguinte, mas ainda precisamos que mais dois ofereçam a vez. E no dia anterior, seis pessoas frequentaram a Casa. Estes seis vão para o sorteio da pedra menor, e os dois que tirarem a pedra menor terão que sair. O grande detalhe nesse critério de seleção é que aquele que sair pela pedra menor, não terá entrada garantida no dia seguinte, já o que doou, terá. 

Nisto, buscamos, também, trazer o senso de comunidade. Para que todos possam usufruir um pouco do que podemos oferecer.  Não buscamos aumentar o nosso número de pessoas atendidas. O primeiro motivo é que a nossa estrutura, hoje, não comporta mais gente. O segundo é que um dos objetivos da Casa é criar relacionamentos saudáveis. Quanto mais pessoas a gente atende por dia, mais difícil fica dar atenção individual. 

A manhã

Após passarem pelo processo de seleção, todos deixam suas mochilas e malas em uma prateleira, e vão ao refeitório tomar café da manhã. Todos os dias servimos café com torradas. São cerca de seis litros de café e cinco pacotes de pão. Enquanto tomamos café, um dos obreiros anota o nome de cada homem e distribui as tarefas do dia. 

Estas tarefas têm algumas funções. A primeira é manter a Casa em ótimo estado de uso. Cada homem fica responsável por alguma atividade na limpeza e manutenção da Casa. Seja ela limpar as mesas, varrer o chão, limpar a biblioteca, cuidar da horta, lavar o banheiro ou lavar a louça do almoço. 

A segunda função é trazer a responsabilidade para todos. Entendemos que cada um de nós está usufruindo do que a Casa oferece e, em contrapartida, mantemos o ambiente limpo e saudável para que o próximo também o utilize assim. 

Outra função é instigar em cada um desses homens que hoje se encontram em situação de rua, que tenham sua casa. E, em casa, somos responsáveis pela limpeza da mesma. Também por isso a Casa Redentor se chama Casa, tem formato e estrutura de Casa e cuidamos dela como uma Casa. 

Por fim, os próprios homens gostam de fazer as tarefas. Segundo alguns deles, isso traz senso de pertencimento e, também, ajuda a manter a mente ocupada.

Ainda durante este período, enquanto alguns realizam as tarefas de limpeza, outros aproveitam o tempo para lavar suas roupas. Neste momento, entregamos um pedaço de sabão e algumas escovas para cada um, para que possam lavar suas roupas. Caso o homem tenha apenas a roupa do corpo, nós emprestamos roupas novas para ele usar, enquanto a sua ainda está em processo de lavagem. 

Outros aproveitam para fazer a barba e cortar o cabelo. Às vezes, temos alguns desses homens que tinham a profissão de barbeiro, e realizam os cortes de cabelo àqueles que necessitam. 

Ainda, neste tempo, temos aqueles que desejam ficar em silêncio lendo na biblioteca, ou tocando violão. E, por fim, o último grupo que fica jogando. No momento, temos Xadrez, Dominó, Dama, Uno e o Três Reis. 

Todos os dias, às 10:30, temos estudo bíblico. Geralmente realizado por algum obreiro e, por vezes, por um convidado. E o estudo termina na hora do almoço, às 11:30. 

A tarde

Após servido o almoço, todos têm um tempo livre até as 13h30. Neste período, alguns ficam jogando, outros aproveitam para assistir tv. 

Normalmente, às 13h30, um voluntário era responsável pela atividade da tarde. Já tivemos oficinas de artesanato e mágica, trabalhos de psicologia e assistência social, estudos bíblicos direcionados, atividades sobre dependência química, bingo, filmes, entre diversas outras. 

E, por fim, às 15h, é servido o lanche da tarde, e todos estão liberados. 

Assim era, basicamente, um dia de atendimento na Casa Redentor. 

Como é agora

Pouca coisa mudou depois do início da pandemia. Diminuímos a quantidade de pessoas atendidas por dia, de 20 para 15, com o intuito de respeitar o distanciamento social. Todos utilizam máscara o tempo todo e higienizam, obrigatoriamente, as mãos antes de cada refeição. 

Outra coisa que mudou foram as atividades da tarde, que agora não contam mais com voluntários. E, por fim, ninguém toca nos materiais dos outros. Cada um é responsável por buscar seu prato de comida e seu copo de suco ou café, evitando o possível contágio.

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